31/08/08

TIME OUT

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Acabaram. As férias. Os dias mornos em casa. Intercalados. Entre o sofá, corpo estendido, e trabalhos domésticos numa lida vagarosa, ao sabor dum tempo que não tem pressa e porque o corpo também se ressente. Dias sem hora de deitar nem de levantar. Mais dias. Noutro lugar. Calorosos. Num Rio de Janeiro, Inverno Agosto quente. Laços estreitados. Outros ares. Outro Inverno. Agosto na Praça de Maio. Buenos Aires de frio moderado. A dança aquece os corpos. A paixão do tango. Uma dança de estações que se trocam e voltam ao seu devido lugar. Verão. Inverno. Verão. Norte. Sul. Norte. E no entanto parece que quase nada muda. Mas alguma coisa muda. Porque algo mais se acrescenta, se mistura em nós. E transforma. Um tudo nada. Amanhã é dia de regresso. Ao trabalho. Os dias a minguar. O Outono. O Natal. Mais um ano. Novo? Outro. Sim. E nós deveríamos saber viver cada dia. Mas não. Vivemos à espera dos dias que desejamos. De outro Verão. Se o sabemos, porque não agarramos o Outono para chegar à Primavera com o Inverno atravessado de olhos abertos? Talvez assim o Verão que se segue seja ainda melhor, apesar da inevitabilidade de dias invernosos que se atravessam sem escolher dia nem estação.

Imagem - Fotografia com sopreposição de texto. Restaurante Scenarium. RJ. TINTA AZUL. 15.08.08

SAMBÓDROMO

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Sambódromo. Não o imaginava como realmente é. Sem o colorido das fantasias das centenas de participantes nos desfiles, do Samba cantado e dançado, da grande festa do Carnaval, perde a graça. As bancadas de cimento cinzento, lembram um corpo despido da carne colorida que lhe dá a vida, mostrando um esqueleto quase desolador para quem só o viu pela televisão cheio de gente animada. Ainda que tenha a autoria de Óscar Niemeyer, não me seduziu enquanto obra de arquitectura [ao contrário do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do qual falarei noutro post]. Tiram-lhe a monotonia, o edifício em frente, onde a cor sobressai ao cinza do cimento, e as casas em cascata da favela que se vê ao longe. Concerteza ficará bem diferente, quando no auge do uso para o qual foi concebido. e talvez, também, não o tenha visto do melhor ângulo.
Perto há uma loja onde se vendem recuerdos do Rio e onde se expõe uma panóplia de trajes carnavalescos. Enquanto passo os olhos que se prendem à exuberância das cores e dos feitios, o rapaz da loja diz-me: Ó moça experimenta, vai, só vestindo dá pra sentir o clima. Experimenta mesmo pra sentir. Agradeci e não experimentei, iria demorar e havia hora marcada para estar no autocarro. Já fora da loja, havia várias pessoas divertidíssimas dentro dos trajes de carnaval vestidos na loja, a posar para fotografias.
Não imaginava que se pudesse experimentar o que se quisesse entre todos os trajes expostos. À medida que o tempo foi passando fui constatando que no Rio pode-se muita coisa, sem frescura. Uma flexibilidade no modo de estar que me agradou.
No dia seguinte, à noite, já na companhia dos primos, haveria de dançar [tentar, evidentemente] o samba, mesmo sem traje adequado, num restaurante fora do comum, na Lapa, um dos lugares in da noite carioca.

Imagens - Fotografias. Tinta Azul. 14.08.08

30/08/08

RIO DE JANEIRO



Estou com vontade de relatar pedaços dumas férias de Verão passadas no Inverno de duas cidades de outro hemisfério. Mas, de facto, estou com dificudades, pois não sei por onde, nem como começar. O meu pensamento assemelha-se a uma favela vista de longe. As memórias encavalitadas umas nas outras, tantas e de tonalidades tão diversas.
Posso dizer que o Rio de Janeiro me entrou no coração. Por muitas razões. Uma delas tem a ver, sem dúvida, com laços familiares de muito afecto que, pese embora o imenso Atlântico de permeio, ajudaram, desde criança a construir uma especial relação com o Rio. E isso é um facto muito interessante. Como uma enorme distância física entre as pessoas não as impede de serem tão próximas.
Mas, a descoberta real da cidade, que apenas se imaginava, revelou-se surpreendente. Pela sua extraordinária beleza natural, pelo modo de ser carioca, a simpatia, a delicadeza, a facilidade com que as pessoas se relacionam, o jeito descontraído de ser.
A memória portuguesa presente em tantas coisas. Não me senti propriamente num país estrangeiro. E isto não se explica com facilidade. Sente-se ou não.
Não, não deixei de constatar a realidade social, feita de gritantes contrastes. Dos condomínios fechadíssimos. Tantos os dos ricos, como os dos pobres, as favelas, que ao longe têm o seu encanto, mas que quando chegamos perto - muito relativamente perto -, nos desolam profundamente. Vêem-se os muitos problemas que o Rio tem, como também se percebem as suas imensas potencialidades. Muitos dos problemas não são nem maiores nem menores dos que os que acabam por ter todas as grandes cidades.
Teria muito mais para falar sobre o Rio, mas ainda estou meio atordoada com a diferença horária e sobretudo com uma certa preguiça, habituada à vadiagem dos últimos dias, para escrever escorreitinho.
O que sei é que gostei do Rio. Sei porque o senti. Senti-me bem, apesar de algum sentimento de insegurança que foi desaparecendo à medida que os dias passavam. Comportem-se como cariocas diziam os primos. E assim foi. Tudo correu bem.
Mesmo fisicamente. O prazer que é acordar num dia de Inverno e vestir uma t-shirt de alças e uns calções e passear no calçadão de Copacabana... Só de pensar que vem aí o frio e de como me sinto mal com ele...
E por falar em Copacabana, aqui fica, vista do Pão de Açucar, pois foi o primeiro lugar do Rio onde parei, depois do Aeroporto. E será assim, com bilhetes postais que contarei mais do Rio ...

Imagem - Fotografia. Vista de Copacabana a partir do Pão de Açucar. Tinta Azul. 14.08.08

29/08/08

CHEGUEI




Já cheguei. Mas ainda não assentei.
Parece que ainda ando a vaguear nas ruas de outra cidade. De calções e mão dada. No agradável calor do Inverno carioca, depois de 4 dias no Inverno, pouco rigoroso, de Buenos Aires.
Mais ou menos por esta hora estaria a pedir um suco de açaí com guaraná no boteco do seu Manolo - que já sabia o que eu queria -, no cruzamento da Rua Machado de Assis com a Praia do Flamengo, para ir tomando até chegar em casa, onde me poria à janela. Em frente, um pouco para a direita, o Pão de Açucar e o Morro da Urca, já iluminados para a noite, acabada de cair, onde durante o dia se viam os Bondes para cima e para baixo. Na rua, sempre coisas para ver. A diversidade de pessoas que atravessam a passadeira em frente. Bicicletas, tricicletas, Carrinhos improvisados que transportam tudo e mais alguma coisa. Discreta, ía tirando umas fotografias a estes quadros humanos para trazer comigo, memória da viagem, porque afinal, é disso que as cidades se fazem.
E assim, a olhar para tudo e cada coisa da rua, para os morros, ao longe, a emergirem da água, me entretinha com prazer até os primos chegarem do trabalho.
Oi. Oi. E aí? Como foi? Andámos muito. Fomos aqui e ali e mais ali, sem problema. Bacana. Tudo em cima. Muito legau. Onde vamos jantar? Cada lugar melhor que o outro. Foi assim durante mais de uma semana. Fosse boteco, fosse restaurante mais elegante, onde amiúde se encontram actores das novelas e outras caras conhecidas. Uma comida sempre óptima. Muito chope, que a cerveja é levezinha, escorrega maravilhosamente, para acompanhar o pastelzinho de camarão com queijo caitupiry, que é uma delícia. Ambientes muito agradáveis. Um serviço simpático e cordial.
Pois, é a cidade maravilhosa. Mas, maravilhosos, maravilhosos mesmo, são os primos. Prá caramba!

Imagens retiradas da net.

13/08/08

LEARNING TO FLY


Fotografia. TINTA AZUL. 7.08.08


Porque já sabes voar, ficas.
Não vais.
Eu, que vou, fico. Presa aqui.
Contigo.
Tenho que aprender a voar.



David Gilmour
Learning to fly

AS CORES QUE LEVO DA MÚSICA QUE TRAGO

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Fotografia. TINTA AZUL. 07.08.08

Deixo as cores que levo,
da música que trago,
enquanto não vou.



Travessia
Milton Nascimento e Wagner Tiso


Verano Porteño - Astor Piazzolla

12/08/08

ONDAS

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Fotografia. TINTA AZUL.7.08.08

Há ondas
que explodem
transparentes
brancas
luminosas.

Outras não.



_Maurice Ravel
Introdução e Allegro

A PROPÓSITO

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Nadia Comaneci

Entrada com mortal de costas
seguida de pirueta na trave
Nova pirueta
sem que um só músculo trema
Saída com duplo mortal encarpado
e queda com ligeira flexão de pernas

neste poema


Jorge de Sousa Braga
in O Poeta Nu


Imagens - Composição. Fotografias retiradas da net.

11/08/08

AGULHAS DE BORDAR 2

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Padrão vegetal
com agulhas de pinheiro,
Sem bastidor nem dedal.




Fotografias. Justaposição. TINTA AZUL 11.08.08

AGULHAS DE BORDAR

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Nem só as linhas,
com que se borda a natureza,
são de muitas cores.
Também as agulhas.

Imagens - 1. Fotografias justapostas. 2. Fotografia. TINTA AZUL. 06.08.08

ANIS

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Acabei agora de comer
um campo de tulipas
Não sei o que fazer
com tanta beleza nas tripas

Jorge de Sousa Braga
In O Poeta Nu

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Não comi um campo de tulipas.
Cheirei um campo de anis.
Entrou-me, a beleza, pelo nariz.


Fotografias - TINTA AZUL .06.08.08

10/08/08

JORGE AMADO [1912 - 2001]

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Porque a sua escrita alimentou o meu prazer de ler na idade em que isso é importante.
Porque me lembro de estar a ler Jubiabá, com as lágrimas nos olhos, ao som da música dos Supertramp, numa Primavera chuvosa de 1977.
Porque me lembro que foi o primo B., que já não está fisicamente entre nós, que me aconselhou e emprestou o Mar Morto, já lá vão mais de 30 anos.
Porque me deliciei com o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, uma história infanto-juvenil para ser lida por adultos, que li, obviamente, já adulta.
Porque faz hoje 96 anos que ele nasceu.

Soapbox Opera - Supertramp


[Não tendo esta música nada a ver, tem, para mim, porque ao som dela li, emocionada, Jubiabá.]

FAROL DE MONTEDOR

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O Farol de Montedor foi construído sobre os restos de um povoado castrejo da Idade do Ferro, comprovado pelo aparecimento dos vários vestigios de cerâmica, tégula e parte do moinho manual de grandes dimensões.

Foi construído em 1910, sendo a sua torre de secção quadrangular, com 22 metros de altura e encontrando-se 37 metros acima do nível do mar. O seu aparelho iluminante de 3ª ordem tem luz branca com rotação, dando grupos de três clarões de 10 em 10 segundos, alcançando 26 milhas em tempo claro.
É o Farol mais ao Norte de Portugal, cruzando com o Farol das Ilhas Cies, na entrada da Ria de Vigo e com o Farol da Barra do Rio Douro, no Porto. [texto da placa junto ao Farol].

E bem próximo do Farol, não menos imponentes, mas horríveis, 3 altíssimas antenas, da Optimus, da TMN e da Vodafone que estragam por completo o belíssmo perfil do monte com o seu belo Farol, circundado duma singular vegetação, com o mar ao fundo, como já disse aqui. Por outro lado, não falta rede nos telemóveis. Em nenhum. Mas eu dispensava.

Imagem - Fotografia. TINTA AZUL. 13.05.07

ONDAS DE PAIXÃO

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Na força
da alma
do mar
outra alma
em suave
navegar.

Fotografias. TINTA AZUL. 06.08.08.

09/08/08

Sheherazade

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Fotografia com aplicação de filtros. TINTA AZUL.15.07.08

Uma obra muito bonita. Para ouvir toda. Mesmo não havendo mil e uma noites de férias de Verão...








Sheherazade de Rimsky-Korsakov
Orquestra Sinfónica de Moscovo dirigida por Arthur Arnold.

5, 6, 7, 8 e 9

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Imagens - Fotografias com sopreposição de algarismos. TINTA AZUL. Agosto 2008.

04/08/08

4 DE AGOSTO

Na cor
da tua pintura
de criança,
traço o quatro,
a gosto, dourado
com todo o amor,
ternura
e esperança
que se põe
no que é amado.

Imagem - Fotografias de pinturas, da MJ, justapostas. TINTA AZUL. 4.08.08

03/08/08

18 ANOS JÁ AMANHÃ


Alguns dos desenhos e pinturas. Que começou muito pequenina a fazer. Que sempre gostou de fazer. Que foram guardados, quase todos com o registo da data. Posso ver como bem cedo passou da garatuja ao esboço do ser humano. Quando mais que um, a maior parte das vezes, de mãos dadas.
Que o desenho da sua vida continue a ser feito de tantas cores. De mãos dadas.
A música é a que gosta agora.
Agora, já amanhã, faz 18 anos.

BONNE NUIT

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Fotografia. UC. TINTA AZUL. 2.08.08


Foi esta hora, PM,
que guardei, num clicar
para ter esta hora, AM
agora, que me vou deitar.

Boa noite.


Ivry Gitlis
Valse Sentimentale de Tchaikovski

02/08/08

NICE DAY

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Fotografia.Telhado. Universidade de Coimbra.TINTA AZUL. 2.08.08

O meu primeiro dia de férias. Passeio turístico a Coimbra. O tempo esteve óptimo. Céu muito azul. Dia claro. Como os companheiros de viagem. Amigos. Daqueles a sério. Que sabem e gostam de rir.
A GP do Sarrabiscos foi a guia. E que bem guiou tudo, sempre com o seu singular sentido de humor.
Um dia muitíssimo agradável.




Concerto de Brandenburgo nº3 - JS Bach

ZECA AFONSO [1929-1987]

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Porque fazia hoje 79 anos.
Pela extraordinária voz. Por tudo.
E, também, porque hoje fui a Coimbra.




Canção de Embalar - Zeca Afonso

VERÃO O VERÃO

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Abriu-se a porta
azul no escuro
recorta
nos olhos a fome
Verão que se come
maduro.


Imagem - Fotografia. TINTA AZUL.2007

01/08/08

NEY MATOGROSSO

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Porque canta muitíssimo bem.
Porque faz hoje 67 anos.




Ney Matogrosso canta Rosa de Hiroshima
Poema - Vinicius de Moraes
Música -
Gerson Conradi

Imagens daqui, daqui, daqui e daqui.

AGOSTO. A GOSTO.

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A gosto entro em Agosto.

Imagem - Fotografia com texto sobreposto. TINTA AZUL.31.07.08